Exposição Marias ressalta combate à violência doméstica e fortalece mulheres
“Quando estamos dentro do ciclo de violência, a gente não se enxerga como gente, como parte da sociedade. Quando a Ísis apareceu, ela trouxe o resgate da nossa autoestima, da possibilidade de se ver no mundo”, revelou, emocionada, a estudante Jiula Campos. Ela é uma das dez mulheres retratadas na exposição fotográfica e livro “Marias”, de autoria da jornalista e fotógrafa Ísis Dantas. A iniciativa traz depoimentos e fotos de mulheres que enfrentaram a violência doméstica.
O lançamento do projeto ocorreu nesta terça-feira (21), no foyer do plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal. A exposição continua no local até o dia 14 de novembro, com visitação de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h. Na abertura, a autora lembrou que iniciativa começou em 2019, com o nome de “Projeto Marias da Penha”. A proposta foi utilizar a fotografia como um instrumento terapêutico. “A ideia é utilizar a fotografia — através do meu olhar, uma mulher vitimada por inúmeras violências — para registrar essas mulheres sem julgamentos e permitir a criação de um espaço de refazimento e de elevação de autoestima”, explicou Ísis.
O projeto também buscou abrir um canal de fala para as vítimas quebrarem o silêncio, relatarem suas histórias e, dessa forma, incentivarem outras mulheres a romperem o ciclo da violência de gênero.
A Procuradora Especial da Mulher da CLDF, deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania), classificou a iniciativa como uma “obra sensível” que retrata a história de mulheres que “transformaram as suas vidas, as suas feridas, em sementes de esperança”. Ela também reforçou o compromisso como procuradora. “Aqui, em nome da Procuradoria Especial da Mulher e como deputada cidadã, eu digo: nós não vamos nos calar, nós não vamos deixar de acolher, nós não vamos deixar que o poder de algumas pessoas nos cale”, afirmou a parlamentar.

Para a enfermeira Thais Ribeiro, participar da iniciativa representou uma nova fase na vida dela. “Para mim, significou um recomeço. Foi o primeiro momento em que eu pude me ver e me reconhecer com uma identidade que tinham tomado de mim. Pela primeira vez, eu pude ver quem de fato eu era”, define. Thais conta que a falta de conhecimento e o sentimento de vergonha a fizeram esconder a situação de violência durante anos. “Ele sabia o que estava fazendo, tanto que me fez prometer que eu não contaria nada a ninguém. Foi um processo muito difícil. Eu parei de me enxergar, minha autoestima foi toda minada, eu me sentia incapaz”, lembra.
A deputada federal Érika Kokay (PT-DF) observou que “as mulheres sofrem caladas e muitas vezes se sentem culpadas pela violência que sofrem”. Ela destacou a necessidade de investimentos crescentes na proteção das mulheres, com mais delegacias para as mulheres e casas da mulher brasileira, de acolhimento a vítimas, além políticas de emprego e renda para mulheres que precisam se reerguer após uma fase de violência. “É preciso que nós tenhamos mais equipamentos públicos e que nós possamos levar a discussão de uma vida sem violência contra as mulheres para todos os cantos”, afirmou Érika.
Transformação social
A autora Ísis Dantas clamou aos gestores públicos e à sociedade civil para se engajarem no combate à violência doméstica. “Essa luta é urgente e precisa ser de todos nós”, enfatizou. Ísis defendeu que “apenas uma educação não sexista e libertária, na qual todos somos iguais em deveres e direitos, será capaz de mudar esse paradigma”. Ela considera fundamental que crianças, adolescente e jovens sejam ensinados a não reproduzirem violências.
“Precisamos trabalhar dia e noite para romper o sistema patriarcal, no qual mulheres são encaradas como objeto de desejo e subordinação. Meninas e mulheres querem e têm direito às suas vidas”, ressaltou Ísis.
O deputado Reginaldo Veras (PV-DF) concordou com o papel central da educação: “Só se combate o machismo patriarcal ensinando a igualdade de gênero desde a primeira infância, na escola, no ambiente familiar, esse é o papel da sociedade. E o papel do Estado é com legislações mais duras, com assistência psicológica e trabalho às mulheres que passam por isso”. O parlamentar considera que somente com a ação conjunta do Estado e da sociedade será possível superar o atual quadro. “A gente evoluiu, mas ainda tem muito que evoluir para a gente extirpar de vez a violência de gênero, a discriminação de gênero e para lutar pela igualdade plena aqui no Brasil”, opinou.

O projeto teve a curadoria do artista plástico Rinaldo Morelli e foi realizado pela Associação Artise de Arte, Cultura e Acessibilidade, com fomento do Ministério da Cultura via emenda do deputado Reginaldo Veras. Para conhecer mais o trabalho de Isis Dantas, basta acessar @mariasdapenha no Instagram.
O lançamento completo foi transmitido pela TV Câmara Distrital e pode ser assistido no YouTube. A solenidade contou com apresentação da cantora e servidora da CLDF Patrícia Duboc, acompanhada de Fred Brasiliense no violão. As fotos do eventos estão disponíveis no banco de imagens da Agência CLDF (acesse aqui).

Serviço
Exposição “Marias”
Data: de 21 de outubro a 14 de novembro
Horário: das 9h às 19h
Local: Foyer do plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal